Vira e mexe, algum amigo ou conhecido me pergunta o que eu achei de algum filme que eu vi, livro que eu li, jogo que eu joguei, ou, na grande maioria das vezes, o que eu acho de algum cantor, banda, álbum ou coisa que o valha que eu tenha ouvido e a pessoa em questão não.
E eu respondo: "Você quer saber se é bom ou voce quer saber se você vai gostar?"
Eu aprendi a fazer essa perguntinha porque tenho amigos de todo o tipo, desde fãs de obras cult pouco conhecidas até consumidores ávidos de lixo pop, passando por artistas, nerds, pseudo-intelectuais, intelectuais de verdade e um contingente enorme de analfabetos funcionais que não sabe entender direito o que diabos o autor da obra está querendo dizer.
O resultado é que quando eu afirmo que eu gosto ou não gosto de uma obra, só falta o sujeito me bater por ter uma opinião supostamente errada. Ou o contrário: a pessoa vai ao show/cinema/peça/exposição só para depois me dizer que foi dinheiro jogado fora por não entender absolutamente nada de shows/filmes/peças/exposições/etc.
Eu gosto das coisas que gosto por uma série de razões pessoais. Algumas lógicas, tipo achar a construçao da narrativa dum livro bem feita, e outras sem lógica alguma - por exemplo, até hoje não sei a razão lógica pra eu detestar jiló ou achar que o Placebo faz juz ao nome e de fato nao tem gosto ou cheiro ou efeito algum.
Imagino que cada pessoa deva fazer algo mais ou menos parecido - mas pode ser que eu esteja redondamente enganado, afinal, eu não sou os outros.
Só que, pelo menos para mim, algo ser bom é diferente de algo que eu goste. Em geral, para eu afirmar a qualidade de alguma obra, eu só abro a boca com um mínimo de conhecimento de causa sobre o assunto. Se me perguntarem se eu acho o Piazolla bom, eu digo que sim, apontando uma série de razões que justifiquem o valor da obra do cara. Não que eu goste de tudo que ele faça. E não que eu pegue os albuns dele para ouvir direto no iPod em modo de repetição contínua.
Pelo menos pra mim, gostar não siginifica que eu ache bom - o que justifica um monte de bobagens que eu leio, vejo e ouço por pura diversão - e nem tudo que eu acho bom eu gosto.
Tento explicar se a obra é boa ou não com base no meu conhecimento de causa (e nem sempre dá, seja por falta de embasamento ou porque a obra é meio ambígua) e tento ajustar o minha crítica em função do ponto de vista do sujeito, que nada mais é do que tentar arriscar um palpite se o cara vai gostar ou não em função das coisas que ele já gosta. Por melhor que seja o grupo, não adianta tentar vender Swingle Singers para um sujeito que só escuta [insira aqui o rótulo de estilo musical de sua escolha]
Invariavelmente, acabo tendo uns diálogos muito surreais. Porque se o povo gosta é bom, e se é bom é porque o povo gosta. Não é?